A cirurgia oncológica é uma das possíveis etapas e desempenha um papel fundamental no tratamento da doença, e a anestesia é um componente vital desse processo.
Sendo assim, todos os cuidados e a escolha da técnica anestésica adequada pode influenciar significativamente os resultados cirúrgicos, a recuperação do paciente e o controle da dor.
A recuperação dos pacientes após uma cirurgia oncológica é um processo complexo e multifacetado, que exige uma abordagem integrada para assegurar uma melhor qualidade de vida e o sucesso do tratamento.
Este artigo explora a importante relação entre as técnicas anestésicas e os resultados das cirurgias oncológicas.
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A importância da anestesia na cirurgia oncológica
A anestesia em cirurgias oncológicas não é apenas uma questão de manter o paciente inconsciente e livre de dor durante o procedimento.
Estudos indicam que a escolha da técnica anestésica pode impactar diretamente a reincidência do câncer e a sobrevida do paciente.
Há evidências emergentes sugerindo que a anestesia regional pode ter um impacto positivo sobre a resposta imunológica. Alguns estudos indicam que técnicas de anestesia regional podem reduzir a liberação de citocinas pró-inflamatórias, potencialmente diminuindo o risco de recorrência do câncer.
A anestesia regional, que inclui a raquianestesia, anestesia peridural e diversas outras técnicas, tem demonstrado benefícios na redução da dor pós-operatória e, possivelmente, na diminuição da reincidência do câncer.
Impacto da anestesia na imunidade
Um dos aspectos mais intrigantes da anestesia em cirurgias oncológicas é seu impacto no sistema imunológico do paciente.
O período perioperatório representa uma fase bastante vulnerável, onde há uma imunossupressão induzida pelo estresse anestésico cirúrgico, associada a uma maior chance de disseminação das células tumorais, devido à própria manipulação do tumor.
As medicações utilizadas nesse período podem interferir de maneira significativa nessa imunossupressão, e os agentes anestésicos estão entre os principais representantes desse grupo. Entre eles, os opiódes, anestésicos inalatórios, corticóides, propofol e anestésicos locais.
Pesquisas sugerem que o uso de anestésicos locais nas técnicas de anestesia regional apresenta melhores desfechos, relacionados à preservação da imunidade, disseminação de células tumorais e bem-estar dos pacientes.
O Papel da dor no tratamento oncológico
A dor é uma experiência comum para pacientes com câncer, resultante tanto da doença quanto de seus tratamentos. Um manejo eficaz da dor é essencial para melhorar a qualidade de vida do paciente e pode ter implicações no sucesso do tratamento.
Estatísticas da dor em pacientes oncológicos
Aproximadamente 55% dos pacientes em tratamento oncológico experimentam dor moderada a severa.
Até 90% dos pacientes com câncer em estágio avançado relatam dor intensa.
Abordagens para o Controle da Dor
O controle da dor oncológica envolve uma combinação de abordagens farmacológicas e não farmacológicas:
Farmacológicas: Incluem analgésicos como opioides, anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e adjuvantes analgésicos. Os opioides, em particular, são essenciais para o manejo da dor intensa, mas devem ser usados com cautela devido ao risco de dependência. As técnicas de anestesia regional com o uso de anestésicos locais também entram aqui, como uma arma poderosa no combate a dor oncológica.
Com opção complementar, também temos os procedimentos intervencionistas, onde determinados grupos de nervos podem ser diretamente banhados por medicamentos específicos, ou até mesmo ter sua função nervosa “desligada”, para que o estímulo doloroso não seja transmitido para o paciente.
Não farmacológicas: Métodos como fisioterapia, acupuntura, e técnicas de relaxamento podem complementar o tratamento farmacológico, proporcionando alívio adicional da dor.
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Impacto da cirurgia oncológica e da dor no prognóstico
A dor não controlada pode ter um impacto negativo no prognóstico do paciente. A dor crônica pode levar à depressão, ansiedade e diminuição da capacidade funcional, interferindo na adesão ao tratamento e na recuperação global. Pacientes com dor bem controlada têm uma melhor resposta ao tratamento e uma qualidade de vida significativamente melhor.
Iniciativas já bem estabelecidas, como os protocolos de recuperação acelerada, baseados em técnicas anestésico cirúrgicas focadas no retorno mais precoce possível às funções normais dos pacientes, tem gerado diversos resultados positivos, incluindo controle mais eficaz de dor e mais rápida desospitalização. Um tempo mais curto de recuperação pós-operatória favorece o retorno acelerado ao tratamento oncológico previamente estabelecido, maximizando as chances de sucesso do tratamento.
A anestesia em cirurgias oncológicas e o manejo da dor são componentes essenciais no tratamento do câncer. A escolha adequada da técnica anestésica pode influenciar diretamente os resultados cirúrgicos e possivelmente ter influência na recorrência do câncer, juntamente com diversos outros fatores.
A pesquisa contínua e a aplicação de dados empíricos são essenciais para aprimorar essas práticas e proporcionar os melhores resultados possíveis para os pacientes oncológicos.
Escrito pelo Dr. Eduardo Borges, médico anestesista parceiro e sócio da Takaoka.
Referências:
Wall T, Sherwin A, Ma D, Buggy D (2019) Influence of perioperative anaesthetic and analgesic interventions on oncological outcomes: a narrative review. Br J Anaesth 123(2):135–150
Brogi, E., Forfori, F. Anesthesia and cancer recurrence: an overview. J Anesth Analg Crit Care 2, 33 (2022). https://doi.org/10.1186/s44158-022-00060-9